Após alta forte na esteira de Americanas, remuneração das debêntures alcançou CDI mais taxa (spread) de 2,85% no início do mês

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Após um janeiro e um fevereiro coalhados de preocupações sobre a capacidade de pagamento das empresas brasileiras, com casos ruidosos como o da Americanas (AMER3) abrindo a fila de problemas, março tem mexido com os mercados em função das notícias sobre bancos internacionais – do menos conhecido Silicon Valley Bank (SVB) ao gigante Credit Suisse – vindo à lona.

Mas diferentemente do que se poderia imaginar, o mercado de renda fixa privada – formado principalmente pelas debêntures emitidas pelas empresas para captar recursos e financiar projetos – tem se mantido estável nos últimos 15 dias.

As taxas de negociação não dispararam, como costuma acontecer quando o receio de contágio predomina. Tampouco caíram, como aconteceu com os títulos públicos. Os papéis emitidos pelo governo seguiram o movimento da curva de juros futura – que cedeu na última semana, diante da percepção de que o banco central americano (Fed, ou Federal Reserve) pode reduzir o ritmo de alta da taxa básica nos Estados Unidos após a quebra do SVB.

Dados levantados pela gestora JGP indicam que, na média, as debêntures disponíveis para negociação atualmente no mercado brasileiro estão oferecendo uma remuneração equivalente à taxa do CDI (indicador de referência para renda fixa) mais uma taxa adicional (spread) de 2,85% ao ano.

É uma taxa cerca de 1 ponto percentual acima da negociada na virada de 2022 para 2023, antes da sequência de eventos de crédito aqui e lá fora começar – mas praticamente a mesma verificada no início deste mês, quando a quebra do SVB ainda não tinha acontecido.

to: Justin Sullivan/Getty Images)

Após um janeiro e um fevereiro coalhados de preocupações sobre a capacidade de pagamento das empresas brasileiras, com casos ruidosos como o da Americanas (AMER3) abrindo a fila de problemas, março tem mexido com os mercados em função das notícias sobre bancos internacionais – do menos conhecido Silicon Valley Bank (SVB) ao gigante Credit Suisse – vindo à lona.

Mas diferentemente do que se poderia imaginar, o mercado de renda fixa privada – formado principalmente pelas debêntures emitidas pelas empresas para captar recursos e financiar projetos – tem se mantido estável nos últimos 15 dias.

As taxas de negociação não dispararam, como costuma acontecer quando o receio de contágio predomina. Tampouco caíram, como aconteceu com os títulos públicos. Os papéis emitidos pelo governo seguiram o movimento da curva de juros futura – que cedeu na última semana, diante da percepção de que o banco central americano (Fed, ou Federal Reserve) pode reduzir o ritmo de alta da taxa básica nos Estados Unidos após a quebra do SVB.

Dados levantados pela gestora JGP indicam que, na média, as debêntures disponíveis para negociação atualmente no mercado brasileiro estão oferecendo uma remuneração equivalente à taxa do CDI (indicador de referência para renda fixa) mais uma taxa adicional (spread) de 2,85% ao ano.

É uma taxa cerca de 1 ponto percentual acima da negociada na virada de 2022 para 2023, antes da sequência de eventos de crédito aqui e lá fora começar – mas praticamente a mesma verificada no início deste mês, quando a quebra do SVB ainda não tinha acontecido.

“As taxas tiveram duas elevações importantes neste ano: uma em janeiro, com Americanas, e outra em fevereiro, com Light (LIGT3)”, diz Alexandre Muller, sócio e gestor responsável pelos fundos de crédito privado da JGP. Na época, a Light anunciou que havia contratado a Laplace Finanças com o objetivo de melhorar sua estrutura de capital. A empresa foi a mesma que assessorou a telefônica Oi (OIBR3) em sua recuperação judicial.

Mas depois de terem atingido um valor ligeiramente superior, os spreads alcançaram o patamar atual e se mantiveram nele nas últimas duas semanas, apesar de a curva de juros ter começado a apontar para baixo. Marília Fontes, analista da Nord Research, destaca que as taxas futuras tiveram recuo de aproximadamente 0,7 ponto percentual, a depender do vencimento, ao longo do mês.

Isso demonstra, segundo Muller, que as taxas das debêntures locais têm mostrado resiliência em relação a possíveis impactos dos eventos dos mercados internacionais – e a principal razão é a pouca negociação desses papéis pelos investidores estrangeiros.

“Os estrangeiros são tributados em 15% sobre os cupons das debêntures no Brasil, enquanto são isentos de Imposto de Renda quando negociam títulos públicos”, explica. “Os movimentos que vêm de fora para dentro se refletem mais nos mercados em que os estrangeiros têm presença relevante, como o DI”, diz o gestor, afirmando que isso pode ajudar a entender por que a curva de juros brasileira fechou. “Nos momentos de turbulência internacional, o mercado local de crédito acaba se tornando um local mais estável”.

Nos Estados Unidos, a visão dominante até os dias que antecederam a quebra do SVB era de que o Fed faria um novo aumento de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros do país, que hoje está na faixa entre 4,50% e 4,75% ao ano. Mas a interpretação de que os problemas com essa e outras instituições financeiras indicam que a política monetária apertada já está causando efeitos para controlar a inflação – reduzindo a atividade econômica – levou os agentes do mercado a acreditarem em cenários alternativos para a decisão de juros marcada para esta quarta-feira (22).

Nesta segunda-feira (20), dados do CME Group apontam que o mercado atribuía aproximadamente 62% de chance de um aumento na taxa básica de 0,25 ponto percentual pelo Fed. Os outros 38% apostam na manutenção, antecipando que o presidente da autoridade monetária, Jerome Powell, pode começar a aliviar o aperto iniciado em março de 2022.

Após um janeiro e um fevereiro coalhados de preocupações sobre a capacidade de pagamento das empresas brasileiras, com casos ruidosos como o da Americanas (AMER3) abrindo a fila de problemas, março tem mexido com os mercados em função das notícias sobre bancos internacionais – do menos conhecido Silicon Valley Bank (SVB) ao gigante Credit Suisse – vindo à lona.

Mas diferentemente do que se poderia imaginar, o mercado de renda fixa privada – formado principalmente pelas debêntures emitidas pelas empresas para captar recursos e financiar projetos – tem se mantido estável nos últimos 15 dias.

As taxas de negociação não dispararam, como costuma acontecer quando o receio de contágio predomina. Tampouco caíram, como aconteceu com os títulos públicos. Os papéis emitidos pelo governo seguiram o movimento da curva de juros futura – que cedeu na última semana, diante da percepção de que o banco central americano (Fed, ou Federal Reserve) pode reduzir o ritmo de alta da taxa básica nos Estados Unidos após a quebra do SVB.

Dados levantados pela gestora JGP indicam que, na média, as debêntures disponíveis para negociação atualmente no mercado brasileiro estão oferecendo uma remuneração equivalente à taxa do CDI (indicador de referência para renda fixa) mais uma taxa adicional (spread) de 2,85% ao ano.

É uma taxa cerca de 1 ponto percentual acima da negociada na virada de 2022 para 2023, antes da sequência de eventos de crédito aqui e lá fora começar – mas praticamente a mesma verificada no início deste mês, quando a quebra do SVB ainda não tinha acontecido.

“As taxas tiveram duas elevações importantes neste ano: uma em janeiro, com Americanas, e outra em fevereiro, com Light (LIGT3)”, diz Alexandre Muller, sócio e gestor responsável pelos fundos de crédito privado da JGP. Na época, a Light anunciou que havia contratado a Laplace Finanças com o objetivo de melhorar sua estrutura de capital. A empresa foi a mesma que assessorou a telefônica Oi (OIBR3) em sua recuperação judicial.

Mas depois de terem atingido um valor ligeiramente superior, os spreads alcançaram o patamar atual e se mantiveram nele nas últimas duas semanas, apesar de a curva de juros ter começado a apontar para baixo. Marília Fontes, analista da Nord Research, destaca que as taxas futuras tiveram recuo de aproximadamente 0,7 ponto percentual, a depender do vencimento, ao longo do mês.

Isso demonstra, segundo Muller, que as taxas das debêntures locais têm mostrado resiliência em relação a possíveis impactos dos eventos dos mercados internacionais – e a principal razão é a pouca negociação desses papéis pelos investidores estrangeiros.

“Os estrangeiros são tributados em 15% sobre os cupons das debêntures no Brasil, enquanto são isentos de Imposto de Renda quando negociam títulos públicos”, explica. “Os movimentos que vêm de fora para dentro se refletem mais nos mercados em que os estrangeiros têm presença relevante, como o DI”, diz o gestor, afirmando que isso pode ajudar a entender por que a curva de juros brasileira fechou. “Nos momentos de turbulência internacional, o mercado local de crédito acaba se tornando um local mais estável”.

Nos Estados Unidos, a visão dominante até os dias que antecederam a quebra do SVB era de que o Fed faria um novo aumento de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros do país, que hoje está na faixa entre 4,50% e 4,75% ao ano. Mas a interpretação de que os problemas com essa e outras instituições financeiras indicam que a política monetária apertada já está causando efeitos para controlar a inflação – reduzindo a atividade econômica – levou os agentes do mercado a acreditarem em cenários alternativos para a decisão de juros marcada para esta quarta-feira (22).

Nesta segunda-feira (20), dados do CME Group apontam que o mercado atribuía aproximadamente 62% de chance de um aumento na taxa básica de 0,25 ponto percentual pelo Fed. Os outros 38% apostam na manutenção, antecipando que o presidente da autoridade monetária, Jerome Powell, pode começar a aliviar o aperto iniciado em março de 2022.

Marília, da Nord, acrescenta outro elemento na análise. Ela lembra que devido à balançada no mercado de crédito após a revelação do caso da Americanas, investidores insatisfeitos com o desempenho negativo dos fundos de crédito passaram a solicitar resgates de seus recursos às gestoras.

“Os gestores precisaram vender as debêntures que estavam na carteira dos fundos para fazer os pagamentos aos investidores, e aceleraram o passo com os papéis de maior liquidez, emitidos por empresas com menor risco de crédito – as chamadas triplo A”, explica, referindo-se aos emissores com rating de crédito AAA ou próximo disso.

Houve mais resgates do que aplicações nos fundos de crédito em todas as semanas desde a encerrada no dia 20 de janeiro, mostram dados da plataforma Economatica. Foram consideradas pouco mais de 1.000 carteiras com alocação de pelo menos 20% em debêntures e classificadas como “crédito privado” perante a Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

A captação líquida negativa chegou a R$ 7,5 milhões na semana até dia 17 de fevereiro, e voltou a superar R$ 7 milhões na que terminou no dia 3 de março.

Com a demanda maior, papéis emitidos por empresas de qualidade passaram a ser negociados com taxas bastante elevadas. “Encontramos CRIs e CRAs [certificados de recebíveis imobiliários e do agronegócio] pagando IPCA mais 7,5% ou 8% ao ano”, diz, ressaltando que títulos como esses embutem ainda a vantagem adicional de serem isentos de Imposto de Renda. Entre os emissores com papéis negociados com taxas ainda elevadas, Marília cita Raízen, Klabin, Eneva, Rede D’or, BRF e Ultra.

Para a analista, as taxas não baixaram como aconteceu com os títulos públicos exatamente porque a pressão de venda desses papéis permanece – e quando a oferta supera a demanda, quem está vendendo precisa oferecer vantagens para conquistar compradores.

Taxas de debêntures vão continuar em equilíbrio?

A principal dúvida no momento é em que ponto do ciclo de crédito o mercado brasileiro se encontra. “Houve uma abertura [elevação das taxas] no mercado doméstico, mas será que estamos de fato entrando em um momento de estabilização?”, questiona Muller.

Sua visão é de que há argumentos para justificar tanto uma queda quanto uma elevação dos spreads daqui por diante – assim como uma manutenção, cenário mais provável na visão do gestor.

Segundo ele, as últimas duas semanas de spreads estáveis na casa dos 2,85% ao ano levam a crer que o ajuste nos preços das debêntures já foi suficiente para atrair novos compradores e pode se manter nesse nível.

As taxas poderiam diminuir se, de fato, a taxa Selic começar a cair. “Existe uma preocupação grande com a capacidade de pagamento das empresas. Se realmente houver a redução de mais de 2 pontos percentuais até o fim de 2024, como se espera no mercado, seria um baita alívio para as companhias” – o que favoreceria novas emissões de debêntures com spreads menores.

Muller, no entanto, enxerga o equilíbrio das taxas como o cenário provável para as debêntures nesse momento, já que restam desafios relevantes para o Banco Central pela frente – desde a mudança de alguns de seus diretores até a convergência da perspectiva de inflação para baixo. “A Selic pode, sim, iniciar uma trajetória de queda, mas no mercado de crédito o mais provável é que que as taxas se mantenham”, afirma.


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